A medicina, como arte curativa que tem como objetivos a cura das doenças e preservação da vida, aparece mencionada na mitologia grega há mais de 2500 anos!
Mas, na história da medicina, a maior das revoluções foi a passagem duma medicina estritamente curativa, para uma medicina preventiva e racional, que o génio Hipócrates ajudou a criar. É à medicina preventiva que se devem atribuir os maiores êxitos na luta contra as doenças e na manutenção de saúde no ser humano.
Logo, nesta arte nobre capaz de atenuar, tratar e prevenir a doença noutros seres da mesma espécie, a racionalização e promoção da prevenção em saúde, bem como a relação privilegiada e empática entre médico/doente/utente/cliente/paciente/pessoa, bem como a especificidade na “pessoa” e na consulta, constituem as pedras basilares desta especialidade mágica que é a MGF. Para nós são importantes a gestão de recursos, o meio social e económico, a história pessoal e familiar, a reserva cognitiva e emocional da pessoa e da sua família, sempre de forma integrada e holística.
Num mundo cada vez mais global mas cada vez mais desequilibrado na saúde e doença, na riqueza e pobreza, na obesidade e subnutrição e numa cada vez maior e melhor especialização técnica e tecnológica, cabe ao clínico geral o confluir destes saberes. Nas recentes revoluções no campo da genética médica, na medicina preditiva, da chamada microbiota e sistema nervoso central, no decifrar o cancro, as doenças auto imunes, a promoção dos cuidados primários de saúde baseados na pessoa e em regras simples como o A,E,I,O,U (alimentação, exercício, inibir o tabaco, olvidar o sal é uma consulta de mgf regular) ganham força e pertinência num mundo de modas efémeras. Devemos pois, voltar às bases do pensar e saber médico, à importância de saber ouvir e aprender com o doente e da importância da história clínica. A evolução da medicina passará, sem dúvida, pela evolução técnica mas, mais importante ainda será a tal medicina personalizada, humanizada e centrada na pessoa e no seu caso.
Assim, o médico de família compromete-se com a pessoa e não comum conjunto de saberes e técnicas ou grupo de doenças. E este compromisso tem duas vertentes: o médico está disponível para qualquer e todo o problema de saúde, em qualquer pessoa, de qualquer idade ou sexo. E este compromisso não tem prazo, não termina com a cura ou fim do tratamento. Esta especialidade médica é, de facto, das mais completas e transversais, capaz de encaminhar quando é indicado, ou seguir pela vida fora, sempre com a perspectiva das diferentes formas de prevenção, primária, secundária, terciária e da cada vez mais importante, quaternária, evitando o excesso de zelo na saúde e no controle da polimedicação e seus efeitos, especialmente nos doentes idosos.
Nesta obra de admirável qualidade, escrita e pensada de forma simples, direta e bem estruturada, transparece o médico em que me revejo. Humano, ético, sincero, prático e com o chamado amor à camisola! Felicito, assim, os autores e a editora pelo êxito desta obra e os seus leitores por terem escolhido esta fonte preciosa de informação. A saúde e a medicina estão na moda e este tipo de literatura dificilmente perderá atualidade, e será sempre um aliado de confiança num mundo em que abunda a desinformação também.
Ao desfrutarem desta leitura, terão certamente uma forte aliança juntamente com o seu médico assistente, para seguirem um caminho para uma vida mais saudável. E nunca se esqueça de respeitar o seu corpo, confiar no seu médico, mas tendo sempre na mente a noção de que a medicina não é uma ciência exata, e é isso que a torna tão fascinante e especial. É uma honra escrever este prefácio e o meu desejo, será o de contribuir de forma ativa para servir a comunidade para uma cada vez melhor informação médica. Agradeço ainda à RTP que me permite chegar a muitas pessoas em vários países e pelo apoio constante, e à minha editora em Portugal, pela aposta, empenho e qualidade. Obrigado. Haja saúde!

JOAO CARLOS RAMOS
PREFACIADOR DA OBRA