Podemos afirmar, sem qualquer receio, que a água ocupa um lugar absolutamente primordial nas nossas vidas. A água é o meio de todos nós. Fomos concebidos e gerados em meio aquático e a maior parte do nosso corpo é constituído por água.
Viemos da água, somos água…
A água é uma verdadeira preciosidade, porque é essencial à vida.
A nossa proximidade biológica com a água leva-nos a querer conhecê-la, desenvolvendo a partir deste exercício uma perspectiva de ciência.
Ao longo de toda a História da Humanidade a atração instintiva pela água levou à instituição do seu culto, tendo aqui este termo uma conotação referencial muito diversa, abarcando um sentido mítico ancestral, quiçá divino, outras vezes mágico, outras ainda derivando do imaginativo para o criativo, originando assim uma perspectiva de cultura…
Água, Ciência e Cultura caminharam percursos comuns ao longo da História.
Queremos conhecer a água e assim desenvolvemos Ciência. Cultivamos a sua temática e assim desenvolvemos Cultura. A Física, a Química ou a Biologia desenvolveram muitos dos seus princípios a partir da água. A água foi também fonte de inspiração para as artes.
Mas a água é também um referencial de Saúde. Desde logo enquanto matéria fundamental da nossa fisiologia, incluindo a sua dimensão de nutriente.
Sem água, não podemos sobreviver. Para além do oxigénio, a água é o “elemento”natural cuja ausência é rapidamente mortal.
A água mantém a homeostasia do nosso corpo.É o principal componente de todas as nossas células e tecidos, variando entre cerca de 90% no feto até 50% em idades muito avançadas. Constitui o meio dos solutos necessários para as reações metabólicas. Precisamos da presença de água em todas as nossas funções biológicas. A água tem um papel essencial na absorção dos nutrientes, digestão, circulação, respiração, remoção e excreção dos produtos e resíduos do metabolismo
A água é também muito importante na nossa proteção mecânica e na nossa regulação térmica. Assim, para a nossa saúde, é fundamental um volume correto de ingestão de água.
Isso pode ser alcançado através de várias fontes, incluindo todas as bebidas e alimentos.
A água presente nos alimentos é responsável por cerca de 20% da sua ingestão total.
A sede motiva a ingestão de água no consumo de bebidas e nas refeições como meios adequados para manter a hidratação. No entanto, em algumas situações particulares, como em crianças (sobretudo os bebés), nos praticantes de desporto e nas pessoas idosas, esse pode não ser o caso, podendo estes mecanismos estar alterados e levar a situações de risco.
A ingestão recomendada de água baseia-se nas necessidades medianas de pessoas geralmente saudáveis e que estão adequadamente hidratadas. Essas necessidades variam de acordo com diferentes idades das nossas vidas. A desidratação pode levar a muitas condições patológicas extremamente variadas. Eis alguns exemplos: hipertermia, falência cardíaca, urolitíase, obstipação, disfunção salivar, défice cognitivo, diminuição do rendimento desportivo, alguns tipos de cancro (bexiga, próstata, rim, testículo, cólon), obesidade.
Percebe-se facilmente que no domínio da Medicina a água deve merecer atenção especial. Toda a História da Medicina nos evidencia uma relação estreita da água não só enquanto nutriente, mas também como meio terapêutico. Cabe aqui uma referência muito especial às denominadas águas minerais naturais, por vezes mais conhecidas como “águas termais”. São águas de características muito especiais, que após um longo percurso de infiltração e circulação profunda, adquirem através da incorporação de elementos químicos e biológicos uma composição específica, muito estável (praticamente constante), podendo emergir natural ou artificialmente e apresentar significativas propriedades terapêuticas. Passam pois a constituir verdadeiros medicamentos.
Determinaram ao longo dos séculos um fenómeno de saúde conhecido por “termalismo”, inicialmente baseado num conhecimento empírico, mas hoje já muito estudado e dotado duma sólida base científica. Não há duas águas minerais naturais iguais e as suas diferenças determinam distintas indicações terapêuticas para variadas patologias.
Mas, embora fundamental, o papel da água não se esgota na nossa biologia e na nossa saúde. A sua influência estende-se a todas as atividades humanas no nosso planeta. Indústria, Agricultura, Economia, Climatologia, Ecologia são algumas das áreas onde devemos situar a enorme importância da água.
Para a produção de nossos alimentos, precisamos de uma enorme quantidade de água. Provavelmente 70% da água que usamos é para produzir alimentos. Assim, ao não desperdiçar alimentos estamos também a economizar água.
A pobreza e a fome estão ligadas ao défice de abastecimento de água.
Há uma enorme desigualdade na disponibilidade de água nas diferentes regiões e países do nosso mundo. Talvez por isso haja uma tendência a pensar que o nosso planeta tem cada vez menos água. Não é exato. O planeta Terra tem a mesma quantidade de água que tinha há 4 milhões de anos atrás. A Terra não perde água. Desde Lavoisier que sabemos isto (“Na Natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma…”).
O que acontece, portanto, é que muito simplesmente a água entra no seu ciclo natural e pode não estar facilmente acessível. Como todos sabemos, só temos cerca de 0,5% de toda a água do nosso planeta disponível para consumo. O nosso erro é pois não fazer uma correta gestão da água. Em 2020, estima-se que 900 milhões de pessoas vivam em aglomerados urbanos. Isso pode criar problemas muito sérios no abastecimento de água. Em 2050, a agricultura deve produzir mais 60% dos alimentos e a indústria alimentar pode exigir um aumento de 400% de consumo de água.
A sustentabilidade deve ser pois o nosso objetivo.
Cada um de nós deve respeitar e usar cuidadosamente a água de todos.
Para isso torna-se indispensável um maior conhecimento da água.
O presente livro constitui um significativo contributo para esse exercício, estamos certos.
Pedro Cantisca
PREFACIADOR DA OBRA